
Democrático de Direito. De Direito. Intervenção. Totalitário.
Violência. Todos estes são estágios do mesmo Estado disposto nas diferentes
gradações políticas. O Capítulo da Intervenção é matiz do Estado Violência,
porque induz com artificialidade uma paz social anômala e até inexistente, um
cotidiano estatal vigiado, uma normalidade induzida, e dessa feita, prova-se
que contra o animus, nada pode o decreto. Assim o é o Pacto Pela
Vida, árvore de brotos
enxertados que gerou frutos e exauriu.
Projetado para ser o mote de uma campanha eleitoral, ganhou
sobrevida nos regimentos, fixando-se, por acidente, em modelo pronto e acabado
de Segurança Pública do Estado. Em seu matiz pseudo e burguês, porém, retiveram-lhes
o quinhão socialista do plano, soçobrando pura e simplesmente o caráter
policial, formal e burocrático que, entretanto, precisou ser implantado.
Vieram, então, das híbridas formações teratológicos comandos
irresistíveis para se fazer sem questionamento, mediante a vil paga por
trabalhos mecenas, consistentes em metas, operações, números, condutas,
posturas, estatísticas e nenhuma humanidade. Nada a ninguém nem à dignidade pessoal, somente à cultura dos enfrentamentos, como num
cabedal de engrenagens adrede preparadas para moer e sob o ruído silabado da
produtividade.
Tal imperativo monótono não grassaria dentre uma massa
experimentada e mais lenhosa, vindo exigir canas verdes e sem anticorpos, que
indefesos, e sob a égide da correição, fariam tudo, ou quase tudo, quando
colocados à prova ou simplesmente para exacerbarem o estresse acumulado.
Diga-se, também, que fatores outros, como o emocional deslocado do eixo da
normalidade, do centro e da razão contribuiriam para tal desiderato.
O tempo passou e as coisas foram se aquietando, e foram sendo
decantadas. A vibração do início passou a dar lugar ao pensar mais lúcido e
maduro. O cansaço, afinal, chegou, e com ele a consciência. As razões de Estado
deixaram de ser absolutas, porque o próprio Estado faltou em seu papel
protagonista, não cabendo à Instituição desenraizar sozinha a causa das mazelas
sociais que ele mesmo deu causa e que agora são crônicas.
Prender por prender deixou de ser a motivação da motivação e
os números começaram a dar os primeiros sinais de queda, prenunciando o fim. Hoje
se opera no limiar da capacidade e da dignidade, sobretudo. Os homicídios serão
sempre homicídios, mas, se a cultura da violência ainda impera no Estado, é
porque o valor à vida, que só se equivale à liberdade, não implica medo da prisão. Temos uma sociedade violenta, truculenta e primitiva e ainda
vivemos no contexto do Estado Violência.
A redução gradual, no Estado, do número dos homicídios
dolosos, no patamar de doze pontos percentuais, ano, é um feito no combate à
criminalidade, sem dúvida. Ocorre que esse índice é a indução ou o reflexo do efeito
relâmpago das incursões do aparelho repressor estatal na sociedade, e a manutenção dele demandará transformações estruturais até
então não vistas.
De nada adianta um decreto estabelecendo metas regressivas,
porque falar de 3494 homicídios é
falar em números de guerra civil, e
comemorar esse resultado é desarrazoar é ensandecer, é provar, definitivamente,
que as investidas do Estado Intervenção no Estado Violência não reduzem e não
são contendores da criminalidade.
Falar
que dentre as dificuldades enfrentadas pelo Pacto Pela Vida estão mudanças no Código Penal é igualmente
falacioso, porque dita codificação é Lei Federal e atinge sem reserva todos os
Estados da Federação. Querer alicerçá-lo
no encarceramento, além de temerário, é medida
típica do Estado Intervenção e indutor de reminiscências totalitárias, não sendo troféu digno de exposição o quantum de 25
mil presos, que esperando ressocialização, esperam vamente a inauguração de
mais um presídio e a requalificação do Aníbal Bruno.
Dizer
que o número de Inquéritos Policiais concluídos pelo Departamento de Homicídios
e Proteção à Pessoa, com determinação da autoria, chega à casa de 905 casos, contra,
apenas, 37 sem elucidação, é admitir que no Estado a motivação dos homicídios o é etiologicamente fútil ou torpe, típico do Estado Violência.
Falar
em latrocínio é recobrar a origem patrimonialista da polícia, crime sem o
privilégio algum ou status de homicídio na esfera judiciária. É igualmente
revelar que uma queda de 126 para 82 ocorrências unicamente significa maior perspicácia,
maior requinte e melhoria da eficiência do bandido em assaltar bancos e estourar
cofres.
Nos
seus cinco anos de Política Oficial de Segurança Pública do Estado, ou seja, do
ano de 2006 até hoje, o Pacto Pela Vida produziu uma amostra daquilo que
enxerga como positivo: para cada 100
mil habitantes 39,3 mortos, quando a média
nacional é de 25 mortes para cada 100 mil habitantes.
De
outra feita, dizer-se que se encontram atualmente relacionados 738 nomes em
lista de procurados, destes, 539 homicidas, nomes, que no ano de 2011 somavam 493,
deduzidos de 141 capturas realizadas, e que este trabalho de caça-bandidos é prevenção
e repressão à violência, é apresentar um balanço
de resultado deficitário com contas que não fecham e que também não convencem.
Expor
que no Carnaval o policiamento terá reforço com pagamento de diárias e horas
extras, dizendo que isto também se fez nas festas de final de ano, é admitir
que o quadro policial esteja aquém do necessário, que a remuneração da
polícia é insuficiente e que o elastério dessas jornadas é cumprido em tempo de
descanso. Afirmar que estudam o indulto dos presos é
querer intervir na própria Lei de Execuções Penais.
Os que
foram reservados à retratação do tráfico e do consumo de drogas revelam que o
Estado se consolidou por rota e por centro produtor e consumidor de drogas
alienígenas e regionais, mesmo tendo sido quadruplicado as apreensões. De
janeiro a novembro de 2011, foram apreendidos 168,57 kg de crack, contra 85,5
kg do ano anterior; 263,55 kg de pasta base de cocaína, contra 97,88 kg; e
4.153.966 kg de maconha pronta para o consumo, enquanto em 2010 foram
apreendidos 2.958.131 kg.
Confirma
essa tese a afirmativa de que entre 2007 e 2011 foram feitas 25 operações de
repressão qualificadas voltadas para o narcotráfico, com realização de 617
alvos, e produção de prova material para 62% deles, exatos 383 presos preventivos.
Supõe,
ao final, que a repercussão das punições disciplinares possui condão de
admoestador moral, sobretudo, quando se impõe pena capital ao
servidor, afirmando que até o dia 22 de dezembro de 2011, 459 procedimentos
disciplinares foram julgados no Estado, 144% a mais que os 188 do
mesmo período do ano anterior, e que deles 58 resultaram em demissão.
Pois
bem, o poder de intervenção da Polícia se não for incrementado por ações estatais
que visem ao engrandecimento do homem está fadado à degradação. O front de
qualquer batalha não pode ser o mesmo por tempo indeterminado, sob pena de sucumbir
e degenerar-se. A
estagnação dos números do Pacto Pela Vida é prova do desgaste do próprio plano
e da fadiga de seus operadores, além de ser o prenúncio de colapso da Segurança
Pública do Estado.
Associação Movimento Independente dos Policiais Civis de Pernambuco - MIPC-PE
Atenciosamente,
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